Não conseguimos mudar pessoas nem circunstâncias. Há tantas pessoas que amamos que vemos se envolver em alguma situação que poderia até ser evitada pela prudência, pela racionalidade; mas essas pessoas perseguem suas paixões e idéias até as últimas conseqüências. Por mais que as avisemos não conseguimos nos fazer ouvidos. Aí nos sentimos tão impotentes, tão inúteis. Não conseguimos mudar pessoas. O pior vem depois; o preço a ser pago pelas escolhas feitas por tais pessoas acaba sendo dividido entre aqueles que a amam. Quem está perto do que ateia fogo em si próprio é chamuscado enquanto luta contra as chamas que deseja e não pode apagar. Não conseguimos mudar circunstâncias.
É duro comprovar essa realidade. Mas não temos nenhum poder sobre nada nem ninguém. Podemos até exercer uma boa influencia, contudo não sabemos qual será o resultado. Triste de nossa condição. Tão cheios de boa vontade, mas tão ineficazes; operosos até, mas tão incertos quanto aos frutos. Pais piedosos criam magnificamente filhos que se servirão da crueldade como se nunca tivessem visto um bom exemplo.
Vou dar trela ao meu pessimismo. Quem pode garantir que a mudança de alguém realmente foi provocada? Você foi tão bonzinho que tornou alguém “menos mal”. Não dá. Nossa bondade, por mais necessária que seja, não fermenta, não tem nenhum poder, não é mágica; não transforma por si só. Caso fosse assim, algumas centenas de benignos, misturados aos malignos, já teriam mudado o mundo. Vou morrer tentando mudar pessoas, e circunstâncias por elas provocadas, e ao final da minha vida perceberei que gastei tanta energia num projeto fadado à falência.
Tenho, contudo, uma questão. Por que muitas pessoas mudam? E mais: por que algumas circunstâncias mudam? Para maior formigamento no meu cérebro, para complicar minhas considerações existenciais, pessoas mudam todos os dias, e circunstâncias a cada hora. Homens cruéis, eis que de repente são tomados pelo espírito de bondade, como a lagarta feia e devoradora da plantinha, que sem se perceber vira borboleta, e vai polinizar para gerar outras plantas.
Alguém muda as pessoas e as circunstâncias. Eu me vejo impotente, mas enxergo algo onipotente. Estou desiludido do poder humano e aludido de um mistério. Vejo-me desesperado de qualquer perspectiva do poder do meu amor, enquanto encho-me de esperança num amor que abriu mão do poder. Quanto mais me sinto impotente, mais dependente. Sou, sim, dependente desse amor para mudar outros, pois se ele não os atrair, que faria eu? Que bom que ele anula minha prepotência. Jamais eu conseguiria mudar alguém eternamente, mas, o que desejo, intercedo, para que deseje por mim.
Não consegui mudar nada nem em mim mesmo, seria uma pretensão pueril mudar quem eu amo. Rendo-me ao meu Deus; não sei qual é seu segredo, mas sei que transforma. Ele é criador de pessoas, sabe dos ajustes do projeto; Ele é criador do tempo e do espaço sabe combina-los para provocar outras circunstâncias. Acho que meu grande problema está na pressa. Isso Ele não tem. Vou me acostumar com seu tempo, orando fervorosamente; mas, vagarosamente.
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